quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Esboço de uma vida comum

Tomei uma dose de cocaina e fui para o meu emprego torturante que parecia um necrotério, todos estavam mortos, esse é mais um dia típico e frustrante que a chuva havia escolhido para cair. Eu era o metereologista do meu tempo e a minha previsão não falhava, uma tempestade nebulosa estava por vir, sentado num banco isolado do metrô observava as pessoas com suas caras cansadas e conformadas, se merda valhesse alguma coisa pobres não teriam bunda, o odio crescia a cada estação que passava me fazendo suar frio, as gotas escorriam pela minha face e despencavam na calça jeans suja e rasgada, senti uma vontade imensa de gritar impropérios e quebrar o vidro da janela com um soco de Mike Tyson, simplismente não queria estar em lugar nenhum naquele momento e ficar sozinho era impossivel o caos não permitia, estava cansado daquela personalidade, cada vez mais eu percebia que era extremamente dificil ser livre, atravessando um pântano de tristezas onde a margem esta infestada de crocodilos famintos o único pensamento que perambula pela mente é que a vida tem muitas dores e a morte acaba com todas elas. Debruçado na janela eu olhava a Radial e os mesmos carros frenéticos que passavam todos os dias sobre seu asfalto saliente e esburacado, as mesmas motos barulhentas e os mesmos ônibus entupidos com dezenas de pessoas expremidas voltando para casa, eu repito: se merda valhesse alguma coisa pobres não teriam bunda, sou apenas mais uma entidade sofredora entre tantas outras, trabalhar à noite era a única vantangem que eu tinha, não enfrentava a guerra matutina para pegar condução e também não sofria com o retorno cansativo para o lar, inspirei profundamente o ar na intenção de absorver para o organismo o ultimo cristal de cocaina que restava no nariz, somente com a adrenalina liberada correndo em todas as veias que é possivel suportar aquelas vozes agoniantes que viajam por cabos telefonicos do brasil inteiro até chegarem aos meus ouvidos latrinais, o corpo tinha que estar amortecido para aguentar os clientes ignorantes que o banco possuia, eu tinha que estar numa dimensão paralela daquela que era pertubadora. A minha bunda estava parecendo uma peneira de garimpeiro de tanto tomar injeção e as juntas dos braços estavam doloridas com hematomas de cor verde das picadas por receber soro a semana inteira, o corpo estava encharcado de remédio, cada dia eu surgia com uma dor diferente e ouvia dos médicos prescrições estupidas para os sintomas que eu inventava, com todos aqueles atestados na mão um de cada hospital que passei eu iria aplicar o velho "fecha boca de patrão", afinal de contas uma doença pode surgir a qualquer momento e não havia absolutamente nada oque falar aquele Bossal, esse foi o único método que encontrei para tentar ser despedido sem tomar uma justa causa, não podia mais vacilar, eu ja tinha levado três suspensões por faltas injustificadas e algumas advertências por erros banais como transferências e queda indevida de ligações e por ultrapassar o tempo estipulado da pausa de descanço, é muito propício cometer esses erros numa central de atendimento, em média um operador receptivo atende mais de oitenta ligações no período de seis horas, o cérebro derrete, a maioria das ligações é por causa de algum problema devido do banco ou compulsividade dos clientes à gastar, é o cúmulo quando um escroto liga para central as duas horas da manha para verificar o limite disponivel no cartão o cretino não vai comprar nada naquele momento e nem vai sair de casa para comprar mas ele tem que dormir sabendo o valor e sonhar com a compra do objeto desnecessario de desejo, o banco e outras instituições capitalistas através dos veículos de comunicação incitam as pessoas à gastar muito mais do que elas podem o pobre cidadão iludido excede o limite do cartão por ter comprado todas as coisas que ele "acha" que precisa para estar feliz e depois liga para a central de atendimento e pedi para parcelar o valor total da fatura porque não tem dinheiro para pagar, é assim que o banco lucra milhões em semanas, parcelando faturas com juros abusivos e o operador colabora para isso ocorrer, se um operador ultrapassa o seu tempo de descanço é menos uma ligação de um cliente desesperado que ele deixa de atender, poderia ser mais uma solicitação de parcelamento ou qualquer outra coisa idiota que traga lucro, a produtividade do operador cai e por isso ele vai ser punido. Quando cheguei no prédio da empresa estava com o coração a Trezentos batimentos por minuto, entrei no elevador da ala B e apertei o botão sete, ao subir imaginei-me colocando uma arma na boca do meu supervisor, ele cagava de medo e eu gargalhava igual a um Sádico, não sei porque justamente naquele momento tamanha peversidade surgio nos meus pensamentos mas a atmosfera daquele lugar faria qualquer um imaginar tais coisas diabolicas, cheguei no sétimo andar desci, fui até a recepção e peguei com o segurança um cracha de visitante, a mais de um ano o meu cracha estava bloqueado e nenhum desgraçado resolveu esse problema, todos os dias eu tinha que ir até a ala B e pegar um cracha com um segurança semi-analfabeto que ficava de plantão, depois de uma semana e meia de ausencia eu retornava para o trabalho como se estivesse voltando do dia de folga, sorrindo, circulava pelos corredores comprimentando desde homossexuias depravados a chefes de familia, aquele lugar estava repleto de gente mediocre e ordinaria, eram raros os que se destacavam. Coloquei o maldito headfone na cabeça e digitei minha senha de acesso no programa, começava mais uma etapa da missão, houve uma época que eu tratava com cordialidade e empatia os clientes, otario, aprendi que quanto mais cordial, prestativo e compreensivo eu era, mais eles gritavam e me ofendiam, o banco errava e roubava muito os clientes e para não servir de bode expiatório eu não podia ser bonzinho tinha que ser um demagogo rude, hostil e rispido, a ultima palavra sempre tinha que ser minha ou eu entraria num conflito ardio e sofreria com algum cliente neurotico, o meu carater havia sido corrompido por aquela instituição cosmodemoniaca e isso era triste, meu metabolismo estava abalado, pesava cinquenta e seis quilos, fazia apenas uma refeição por dia, ia dormir sempre as oito e meia da manha e acordava as seis horas da noite parecendo que tinha dormido sobre pedras, me sentia doente de verdade e a todo momento eu pensava que iria ter um ataque epilético.


Walter Rodrigues






















Um comentário:

Glauber Canovas disse...

CARALHOOOOOOO.. Eu nunca vou trabalhar de telemarketing!!!

Muito bom Wal...

Me fez perder quase 15 minutos, mas ri pra caralhoo!!

Imaginei por vezes sua feição hostil olhando aquela gente louca do metrô!! hahahaha...