quarta-feira, 11 de junho de 2008

Traços de uma personalidade encouraçada

Sou mentiroso, sem vergonha, cinico e sacana, as vezes finjo que gosto de falar com as pessoas apenas para ver se elas vão embora mais rapido, olho para todas as mulheres até mesmo quando a minha esta perto... sou egoista e egocêntrico, sou péssimo em portugues e não sei acentuar palavras... nunca termino o que começo e se um dia acabei alguma coisa não gostei do que vi. Sou covarde e as vezes tremo em situações dificeis, quando fico nervoso meu estomago doi e chego quase a vomitar. Não consigo dizer as coisas que eu quero e sempre guardo magoa e rancor das pessoas a minha volta. Me iludo e desiludo e volto a me iludir pelo menos cem vezes nesse ultimo minuto... falo por favor e muito obrigado mas geralmente quero que as pessoas se explodam, fico com paranoias o dia todo e todos os dias sobre qualquer coisa que ouço ou vejo e principalmente de eu achar que é comigo.
Walter Rodrigues

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

E assim nos tornamos os seres que somos

_ Professora minha irmã levou um tiro.
_ Sério!? não acredito, quando?
_ Ontem, mas ela esta bem, foi no braço.
_ Você está triste ?
_ Não professora.
_ Ótimo, então continue copiando a lição.

Sempre que não queria mais escrever eu começava uma conversa com a professora - que não dava mais importância aos meus absurdos infantis - inventei essa história da minha irmã levar um tiro quando estava na primeira série, eu tinha sete anos e já era corrupto, me esquivava das obrigações e exercitava a mentira como ninguém, não tinha irmã - mas sempre quis ter uma mais velha - seria legal, para pedir dinheiro emprestado e dicas com as garotas. Foi uma época fantástica aquela, desconhecia o significado da palavra responsabilidade, brincava, se divertia, não existia morte e o futuro era algo distante e dos filmes. Eu imaginava que quando tivesse vinte anos estaria casado, teria uma casa e um carro - mera ilusão.

Walter Rodrigues

sábado, 22 de dezembro de 2007

Auto-isolamento

Surge um novo período no mundo que nos faz sentir próximos dos nossos semelhantes, mas cada vez ficamos mais distantes. Mil quilômetros não vão ser nada quando nos tornamos uma interface holográfica digital, não vamos mais precisar de pele e ossos, seremos de plasma, nossas formas serão retangulares. O calor humano não será necessário, gestos como o abraço e o beijo seram instintos e viveremos em inércia.
Walter Rodrigues

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

O pulo das sete ondinhas não me trouxe sorte

Havia se passado quase um ano depois que autoazarei-me ao blasfemar e debochar do estouro da minha champagne - a velha cidra - que chacoalhei intensamente para cima e para baixo, sorrindo, com excitação e prévia felicidade, desejando a sorte, a poucos minutos antes dos céus noturnos e estrelados se colorirem de verde, azul, amarelo e vermelho e o barulho ensurdecedor atravessar os ouvidos. Iniciava-se a contagem regressiva, Dez, Nove, Oito, Sete... a maioria das pessoas estavam usando as tradicionais roupas brancas do último dia do ano e descalças sobre a areia repleta de velas acesas e flores que o mar devolvia Seis, Cinco, Quatro... sorriam alegremente e começavam a agitar suas garrafas também, algumas parecidas com a minha e outras iguais as que são entregues aos pilotos de Fórmula 1 - garrafas enormes de vidro reluzente igual ao brilho de uma safira - cheias de vinho branco, enquanto a minha, uma garrafa transparente e de rótulo rasgado, onde não havia sido engarrafado o liquido borbulhante e sim enxofre. Três, Dois, Um - Feliz Ano Novo!
Quando saquei a rolha - Pof! - A maldita rolha - explodiu no céu a palavra Azar, escrita gigantescamente em vermelho e decorada por um ballet de explosões de azul e verde, o estouro da minha champagne, se é que posso chamar aquilo de estouro, foi semelhante a impotência de um membro, a rolha não tinha subido até às estrelas como eu imaginava, simplesmente caiu ao lado dos meus pés e nem mesmo aquela fumaçinha que sobe da garrafa após sacar a rolha surgiu. Tomei um gole amargo e ransoço daquela cidra e limpei a boca com o braço direito, ofendi a Deus e a mim mesmo. As pessoas ao meu redor pulavam, bebiam e a chuva de champagne molhava a face de todos - menos a minha - alguns homens corriam com suas garrafas atrás de mulheres e faziam jorrar o vinho branco, que parecia interminável em suas costas, outros agradeciam e faziam suas orações a beira mar, muitos casais beijavam-se e abraçavam-se. O barulho dos fogos de artifício era a trilha sonora daquele momento de felicidade onde a falsidade se camuflava entre as risadas, os abraços e as dedicações de feliz ano novo. Começava uma trajetória de frustrações e pleno azar para mim.
Walter Rodrigues

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Ponto de retorno

O caos, alastrado por todo esse pós-mundo. Não temos uma época, somos a geração de iludidos e decadentes que possuem dívidas altíssimas com os sonhos. Crescemos sentados na frente da tela de vidro e vivemos como suínos, comendo tudo oque é oferecido, dormindo e procriando. Como os quelônios, fazemos de nossos cascos uma morada e uma proteção, mas fedemos por dentro, o chorume da humanidade transborda pelo nosso interior habitado por vermes, somos parasitas - o câncer do universo. Tudo já foi escrito, falado, cuspido e comercializado. O eterno retorno nietzscheniano, desde pertubações humanas a bandas de rock dos anos 70. É necessario destruir para ser criado algo novamente e quando nos libertarmos tudo seguirá com infalível certeza, mesmo no meio do caos.

Walter Rodrigues

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

O monólogo de Raziel

De volta a mim
De nada me serviram os remédios, a dor das agulhas perfurando o corpo e as encenações do personagem enfermo, um impulso juvenil, ansioso e precipitado poderosamente inverteu o movimento das engrenagens douradas da minha mente. A frustração novamente me visitou trazendo consigo flores murchas, os pilares de sustentação do ego apenas estremeceram-se, pois em suas estruturas o orgulho e a honra foram misturados às pedras de mármore - sujas de tártaro do mundo. Por uma fenda na alma, um raio de luz de esperança atravessou e iluminou o caminho obscuro do vale das trevas, era o momento de correr e se esquivar dos ataques de criaturas taciturnas gritantes e chegar à encosta Lira. Enquanto eu corria por uma alameda de árvores cinzas e secas onde corujas descansavam, uma lembrança antiga surgiu devastando os meus sentidos me fazendo parar - "Estás amaldiçoado para sempre Raziel" e nunca mais vai acreditar no mundo e nos seus semelhantes, mesmo que lhe digam a verdade! - palavras estas pronunciadas por um espectro que encontrei nas ruas barulhentas de Hiperion. Imóvel e com os pés sujos de lama negra, olhei ao meu redor e percebi que olhos de brilho vermelho nefasto me vigiavam da floresta e morcegos sobrevoavam a minha cabeça, pensei nas palavras ditas pelo espectro e imediatamente o meu egocentrismo criou uma muralha diante dos meus olhos. Eu era amaldiçoado por mim mesmo e não havia mais a necessidade de continuar correndo se não acreditava naquela luz.
Walter Rodrigues

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O monólogo de Raziel

A queda ou o despertar
Voei o mais alto que pude com a ambição e o desespero de um pobre que quis assaltar o céu mas se perdeu na neblina e caiu nas águas gélidas e turvas que desaguavam no submundo. Velozmente choquei-me com a parede de água e fraturei uma das asas, asas que crescem apenas nos sonhadores, enquanto sonhas o espirito é libertado e pode-se voar para onde quiser, mas ao despertar corre-se o perigo de estar em qualquer lugar frio e úmido com o corpo ferido e exausto. Debatendo-se e afundando cada vez mais, eu gritava, é agonizante por ser um grito sem eco, engoli muita água salobra e a força devastadora da correnteza fez-me rodar por todos os lados me arrastando contra pedras cortantes. Continuei sendo arrastado submersamente e fechei os olhos, não sentia mais as pernas, os braços e as asas, ainda havia na alma um foco de luz esperançosa coberta de lodo e pó, mas era insuficiente para dar forças aos membros agredidos.
Walter Rodrigues