quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

O monólogo de Raziel

De volta a mim
De nada me serviram os remédios, a dor das agulhas perfurando o corpo e as encenações do personagem enfermo, um impulso juvenil, ansioso e precipitado poderosamente inverteu o movimento das engrenagens douradas da minha mente. A frustração novamente me visitou trazendo consigo flores murchas, os pilares de sustentação do ego apenas estremeceram-se, pois em suas estruturas o orgulho e a honra foram misturados às pedras de mármore - sujas de tártaro do mundo. Por uma fenda na alma, um raio de luz de esperança atravessou e iluminou o caminho obscuro do vale das trevas, era o momento de correr e se esquivar dos ataques de criaturas taciturnas gritantes e chegar à encosta Lira. Enquanto eu corria por uma alameda de árvores cinzas e secas onde corujas descansavam, uma lembrança antiga surgiu devastando os meus sentidos me fazendo parar - "Estás amaldiçoado para sempre Raziel" e nunca mais vai acreditar no mundo e nos seus semelhantes, mesmo que lhe digam a verdade! - palavras estas pronunciadas por um espectro que encontrei nas ruas barulhentas de Hiperion. Imóvel e com os pés sujos de lama negra, olhei ao meu redor e percebi que olhos de brilho vermelho nefasto me vigiavam da floresta e morcegos sobrevoavam a minha cabeça, pensei nas palavras ditas pelo espectro e imediatamente o meu egocentrismo criou uma muralha diante dos meus olhos. Eu era amaldiçoado por mim mesmo e não havia mais a necessidade de continuar correndo se não acreditava naquela luz.
Walter Rodrigues

Um comentário:

renato delmar disse...

sao as fendas da alma meu caro.. delas escorrem sangue.. o bom e velho sangue de barata!