
Quando saquei a rolha - Pof! - A maldita rolha - explodiu no céu a palavra Azar, escrita gigantescamente em vermelho e decorada por um ballet de explosões de azul e verde, o estouro da minha champagne, se é que posso chamar aquilo de estouro, foi semelhante a impotência de um membro, a rolha não tinha subido até às estrelas como eu imaginava, simplesmente caiu ao lado dos meus pés e nem mesmo aquela fumaçinha que sobe da garrafa após sacar a rolha surgiu. Tomei um gole amargo e ransoço daquela cidra e limpei a boca com o braço direito, ofendi a Deus e a mim mesmo. As pessoas ao meu redor pulavam, bebiam e a chuva de champagne molhava a face de todos - menos a minha - alguns homens corriam com suas garrafas atrás de mulheres e faziam jorrar o vinho branco, que parecia interminável em suas costas, outros agradeciam e faziam suas orações a beira mar, muitos casais beijavam-se e abraçavam-se. O barulho dos fogos de artifício era a trilha sonora daquele momento de felicidade onde a falsidade se camuflava entre as risadas, os abraços e as dedicações de feliz ano novo. Começava uma trajetória de frustrações e pleno azar para mim.
Walter Rodrigues
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