segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

O pulo das sete ondinhas não me trouxe sorte

Havia se passado quase um ano depois que autoazarei-me ao blasfemar e debochar do estouro da minha champagne - a velha cidra - que chacoalhei intensamente para cima e para baixo, sorrindo, com excitação e prévia felicidade, desejando a sorte, a poucos minutos antes dos céus noturnos e estrelados se colorirem de verde, azul, amarelo e vermelho e o barulho ensurdecedor atravessar os ouvidos. Iniciava-se a contagem regressiva, Dez, Nove, Oito, Sete... a maioria das pessoas estavam usando as tradicionais roupas brancas do último dia do ano e descalças sobre a areia repleta de velas acesas e flores que o mar devolvia Seis, Cinco, Quatro... sorriam alegremente e começavam a agitar suas garrafas também, algumas parecidas com a minha e outras iguais as que são entregues aos pilotos de Fórmula 1 - garrafas enormes de vidro reluzente igual ao brilho de uma safira - cheias de vinho branco, enquanto a minha, uma garrafa transparente e de rótulo rasgado, onde não havia sido engarrafado o liquido borbulhante e sim enxofre. Três, Dois, Um - Feliz Ano Novo!
Quando saquei a rolha - Pof! - A maldita rolha - explodiu no céu a palavra Azar, escrita gigantescamente em vermelho e decorada por um ballet de explosões de azul e verde, o estouro da minha champagne, se é que posso chamar aquilo de estouro, foi semelhante a impotência de um membro, a rolha não tinha subido até às estrelas como eu imaginava, simplesmente caiu ao lado dos meus pés e nem mesmo aquela fumaçinha que sobe da garrafa após sacar a rolha surgiu. Tomei um gole amargo e ransoço daquela cidra e limpei a boca com o braço direito, ofendi a Deus e a mim mesmo. As pessoas ao meu redor pulavam, bebiam e a chuva de champagne molhava a face de todos - menos a minha - alguns homens corriam com suas garrafas atrás de mulheres e faziam jorrar o vinho branco, que parecia interminável em suas costas, outros agradeciam e faziam suas orações a beira mar, muitos casais beijavam-se e abraçavam-se. O barulho dos fogos de artifício era a trilha sonora daquele momento de felicidade onde a falsidade se camuflava entre as risadas, os abraços e as dedicações de feliz ano novo. Começava uma trajetória de frustrações e pleno azar para mim.
Walter Rodrigues

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